Aleatoriedades

Esta live de editora poderia ter sido um release

Com o surgimento da pandemia de Covid-19, as editoras precisaram encontrar alternativas às famosas palestras presenciais que ocorriam em eventos de anime. As lives então se tornaram uma alternativa viável de colocar editores e público em contato constante para tirar dúvidas e falar sobre as novidades de cada editora. Infelizmente, esse contato acabou se tornando constante demais.

Das três principais editoras de mangá no Brasil, duas passaram a lançar vídeos e lives com uma frequência semanal. Campeã na categoria, a NewPOP levou quase à risca a ideia de prestar contas ao público e transformou suas lives semanais em verdadeiras reuniões com acionistas, no qual o diretor Junior Fonseca conta sobre desafios de aprovação, abre o jogo sobre vendas e tenta ludibriar os otakus com participações esporádicas de seu incrivelmente foto mascote Mushu, que de tão fofo merece aparecer aqui na matéria.

Mushu sendo perfeito

Por sua vez, a JBC promove semanalmente um espaço para que Marcelo Del Greco (editor), Edi Carlos Rodrigues (marketing) e Chibi Martins (apresentadora) comandem um talk show escorado na história da própria editora. Se em eventos presenciais já víamos Del Greco contando as mesmas histórias todos os anos, imagine agora em uma plataforma que permite ele repetir uma vez ao mês que Video Girl Ai foi licenciado sem ter um anime exibido na televisão? No show virtual da editora nem sempre o tema é mangá: muitas vezes os envolvidos debatem sobre histórias de sua juventude, conversam sobre tokusatsu e fazem piadas que trariam constrangimento a uma ceia de Natal. Inclusive, vale citar aqui que teve lançamento de vídeo com informações até mesmo na noite de Natal!

A Panini também não ficou de fora e passou a apostar nas lives como uma forma de ter mais contato com o público. Qualquer interação com a editora é muito bem vinda, afinal a mesma já praticou ghosting com todos nós em um passado recente, mas suas lives se tornaram apenas um grande checklist dos lançamentos do mês. Em vez de disponibilizar num site de fácil acesso essas informações, temos a equipe editorial da Panini lendo como se fosse chamada de escola cada um dos mangás previstos para o mês em questão (e são dezenas deles).

Me pergunto se são necessárias tantas lives assim. A Panini até tudo bem, pois realiza mensalmente esses encontros virtuais, mas a NewPOP e a JBC não têm um volume de lançamentos que justifique longos vídeos semanais relatando informações que poderiam estar em um texto ou em postagens do Instagram.

Sobre uso de redes sociais, acho curioso como as editoras têm um grande números de seguidores, mas raramente as utilizam para passar essas informações. Eu particularmente gosto como a editora Ivrea da Argentina coloca em um post de Insta as mesmas informações que as editoras levam 10 minutos para passar em um vídeo:

O grande problema é que as editoras pecam pelo excesso. Em datas comemorativas tanto a JBC quanto a NewPOP já chegaram a promover uma semana inteira de lives, em todos os dias, algo que poderia facilmente se enquadrar como tortura.

Para piorar, as editoras de mangá estão para sofrer um grande baque. O blog Lacradores Desintoxicados vinha acompanhando e cobrindo em tempo real todas essas lives de editora, porém o mesmo precisará interromper as atividades porque o guerreiro responsável pela cobertura voltará às aulas presenciais com a “melhora” da situação da pandemia. Ou seja, as editoras estão parar perder um dos poucos veículos que se aventura em resumir o conteúdo de cada uma dessas lives para pessoas que só querem a informação.

Sem cobertura da imprensa desse meio, as informações ditas numa live serão perdidas? Ou as próprias editoras passarão a também informar de forma fácil o que foi dito numa live? Se uma árvore cai na floresta e ninguém está perto para ouvir ou ver, será que a árvore caiu mesmo? São muitas perguntas para apenas uma afirmação: acho que não precisamos de tantas lives assim.