Mercado Nacional

Com pandemia, mercado de mangás no Brasil deve ter maior crise de todos os tempos

Muitos otakus já me consideram o Átila Iamarino dos mangás no Brasil por sempre ser o porta-voz das notícias pessimistas sobre o mercado editorial brasileiro, mas dessa vez não tem como ser diferente: com a pandemia de Covid-19, limitações de pontos de venda, crise econômica e alta no dólar, os mangás sofrerão o maior baque desde o começo de sua publicação nos anos 2000.

Pra começar, o mangá vendido em 2020 tem uma proposta muito diferente dos títulos que eram vendidos no começo dos anos 2000. Sem a “propaganda gratuita” dos animes na televisão aberta e sem qualquer interesse em fazer divulgação de mangás para fora dos fãs, os mangás foram se tornando produto de nicho ano após ano, se afastando de um público mais geral (e maior).

Para sobreviver às crises econômicas do país e dos problemas com a distribuição em bancas, as editoras começaram a investir cada vez mais no mercado dos títulos de luxo, mirando na venda em livrarias. Claro que alguns mangás fazem sentido um lançamento caríssimo e de capa dura, como Devilman da NewPOP ou Monster da Panini, mas o formato acabou sendo explorado como uma forma de lançar muitos volumes de um mesmo mangá de uma única vez, o que explica um mediano Sakura Wars da JBC custando 60 reais.

Mas você já sabe de tudo isso, afinal você provavelmente acompanha esse site ou é minimamente bem informado através de grupos de mangás no Facebook. A questão agora é que a pandemia de Covid-19 conseguiu quebrar todas as pernas que sustentavam o mercado editorial ao mesmo tempo, deixando as editoras totalmente perdidas.

Essa semana a JBC lançou em seu site oficial um comunicado para explicar como está a situação da editora em meio à pandemia. Spoiler: a coisa está complicada. Todas as etapas do processo responsáveis por levar o mangá aos leitores foram prejudicadas de alguma forma pela pandemia de coronavírus: as gráficas estão trabalhando em turnos menores, há a dificuldade de se importar alguns tipos de papéis usados nos mangás brasileiros e, claro, a alta do dólar (este já bem alto desde a incompetência da equipe econômica do asno presidencial) afeta desde a licença de novos títulos quanto o preço do papel e o combustível usado na distribuição.

E lembra que contei sobre como as editoras passaram a mirar nas livrarias como uma forma de compensar a falta de distribuição em bancas? Então, e se eu contar que a pandemia levou ao fechamento de muitas livrarias no país, o que acarretou numa queda de 48% do faturamento no mês de abril?

Para combater esses problemas, as editoras passaram a olhar com mais carinho aos mangás digitais. A JBC já trabalha com essa modalidade de venda há mais tempo e tem 500 volumes disponíveis na internet, mas a novidade é que a editora Panini lembrou que publica mangás digitais há anos e anunciou os títulos ao público pela primeira vez. Teve até site que anunciou a chegada da Panini aos quadrinhos via internet como uma novidade, sem saber que a editora já lançava as coisas sem qualquer divulgação há mais de 2 anos.

Mas se tem editora colocando o pé no freio por conta da situação do país, afinal a população inteira foi afetada financeiramente com a pandemia, uma certa Panini ainda não mostrou qualquer sinal de cautela. Pelo contrário.

A Panini até avisou em seu prático checklist em PDF sobre como alguns títulos previstos para esse período do ano foram reprogramados para o futuro, o balanço levantado pelo Biblioteca Brasileira de Mangás entrega que serão publicados 23 mangás pela Panini. Para você ter uma ideia, um aumento de 35% na quantidade de mangás se compararmos com os lançamentos da mesma Panini em maio de 2019 (ano sem pandemia). E daquele jeito: se você não compra quando sai, pode nunca mais encontrar o volume dali alguns meses.

Se a situação do mercado editorial já estava crítica antes apenas com problemas no país, a pandemia veio para piorar tudo. Passada toda essa situação de doença, o mercado brasileiro de mangás vai precisar de muita inteligência e planejamento para conseguir se sustentar em meio a uma enorme crise. Vamos ver se as editoras abandonam as estratégias quase freestyle dos últimos anos e conseguem manter o mercado vivo.