Aleatoriedades

Por que o Mais de Oito Mil está em hiato?

Há alguns meses, e sem muita explicação, decidi dar um tempo aqui no Mais de Oito Mil. Postei apenas nas redes sociais e fui-me. Como passou um tempo maior do que eu havia previsto de descanso, e como tem gente que até hoje cobra um retorno ou o que aconteceu, achei que era justo para quem acompanha o Mais de Oito Mil uma explicação mais detalhada.

Ouvi muitas teorias sobre eu ter largado aqui, algumas bem fantasiosas.

“ah, você está escrevendo em outro lugar por isso largou”
“você quer se dedicar ao canal do YouTube sobre outro assunto”
“o novo WordPress é muito difícil de usar”
(esse aqui é um bom motivo, na real)
“estava cansado de receber hate de otakus”

Nada disso é verdade, até porque não há nada mais gostoso do que irritar otaku. Meu problema é que cansei de lidar com todo o meio.

O Mais de Oito Mil sempre foi um lugar mais opinativo e crítico, mas sempre fiz questão de manter o lado bem humor porque é a forma como eu gosto de fazer tudo na minha vida (seja no blog quanto na vida profissional). Longe de dizer que sou o grande inventor de uma nova tendência de escrita, até porque essa é a coisa mais comum que tem, mas no meio otaku era diferente da linha de outros sites e blogs do meio.

Por ser um nicho muito pequeno, a imprensa especializada desse meio acaba relevando muitas coisas, seja para não desagradar pessoas ou mesmo porque tinha algum interesse nisso. Sempre tentei ser mais crítico e o menos injusto possível, mas esse é um mercado dominado basicamente pelo ego de pessoas que colocam assuntos pessoais à frente de críticas profissionais.

Nesses anos de site já ouvi muito desaforo, virtual e pessoalmente. Pessoa pública me xingando, gente mandando e-mail prometendo agressão, ameaças de morte vindas de comentários “anônimos” (com aspas porque o ASNO comentou com o mesmo IP de comentários que fazia com uma conta normal). Mas sempre levei numa boa, na medida do possível, porque são pessoas conhecidamente descompensadas.

Por interesse e por acidente, acabei me dedicando mais ao mercado editoral brasileiro de mangás. Fui a palestras de editora, entrevistei os maiores editores de mangás do Brasil, fazia uma cobertura mais crítica enquanto outros veículos preferiam uma narrativa mais chapa branca. Por mais que me orgulhasse do trabalho que fazia e das críticas que levantava, nem tudo foi perfeito e já cometi falhas que vão contra o que acredito. Me lembro de uma vez em que uma pessoa que trabalha numa editora pediu gentilmente para que o mais recente erro daquela editora não virasse pauta no blog. Hoje me arrependo da decisão que tomei naquela época.

O mercado editorial de mangás no Brasil é uma área que eu sempre me importei, e claro que gostaria que crescesse. Porém, várias decisões nos últimos anos (e bem antes da pandemia se tornar o carrasco do mercado) foram levando o mercado a um caminho que me desagradava, de elitização. Sempre comentei que nenhuma editora fazia pesquisa de mercado, que acreditavam demais em meia dúzia de pessoas em fóruns escondidos na internet e tomavam decisões para agradá-las.
Sempre fui a favor do material ser o mais acessível possível, e as editoras foram colocando títulos em japonês e honoríficos porque seriam teoricamente intraduzíveis. A caminhada para agradar um povo que não vai ser agradado levou até a umas aberrações em outras áreas, como o anime que colocou honoríficos numa dublagem ou o famoso anime shonen que colocou todos os golpes em japonês para não irritar a fanbase.

E a cada vez que eu apresentava argumentos para ir contra as decisões tomadas para elitizar os produtos, recebia contra mim uma energia oposta vindo de quem trabalhava com isso. Não digo que nesse meio só temos pessoas desagradáveis, há pessoas muito íntegras e competentes nesse meio, mas as desagradáveis são a maioria. E foi lidar com isso que foi me fazendo cansar desse lugar que eu tanto gostava de ficar.

É bastante desagradável escrever uma crítica no site e, poucos minutos depois, receber mensagem privada de editor dizendo que eu sou culpado pela crise que assola o mercado de mangás. Ou então ouvir profissional da área falando publicamente que não tenho qualquer credibilidade para falar sobre o assunto porque o faço com bom humor. Teve também a vez em que estive cobrindo uma palestra e um executivo de uma empresa do meio editorial começou a falar sobre pessoas que faziam críticas sem motivo e fixou o olhar em mim. E isso tudo estou falando de coisas que ouvi pela frente. Para muitos profissionais dessa área, a culpa é sempre de quem critica (ou da crise mais recente), e nunca suas próprias decisões.

Eu cansei daqui, deixou de ser o lugar que eu me divertia escrevendo. Muita gente está atuando de forma amadora nesse meio da produção de conteúdo porque ambiciona ser notado por alguma empresa, talvez trabalhar em alguma rede de televisão, mas eu fazia esse blog porque era algo que me divertia e eu me importava. A partir do momento que começou a não me alegrar mais, perdeu totalmente o sentido de seguir falando do enésimo erro gráfico, da editora que lança tijolões porque colecionador só se importa com a aparência do treco ou por aí vai.

Isso aqui não é um adeus porque sou incapaz de dizer isso. Já pensei seriamente em acabar com esse site há uns dois anos, de apagar tudo mesmo, mas vou só deixar aqui sem mexer. Pode ser que um dia eu lide melhor com esses sentimentos e decida voltar, assim como pode ser que eu nunca mais poste aqui.

Agradeço todas as portas que o Mais de Oito Mil me abriu, e elas foram abertas porque acredito que fiz um trabalho bastante competente. Agradeço às pessoas desse meio que conheci, e algumas consegui até criar laços de amizade. E agradeço principalmente a todos vocês que acompanharam e interagiram nas redes sociais.

Continuo assistindo a animes, lendo mangás e acompanhando o mercado, mas agora estou na minha ou escrevendo para outros lugares. E continuo me dedicando a projetos pessoais que felizmente estão indo bem e me trazem a alegria que deixei de sentir por aqui.

Então é isso,
até mais!