Animes

Hi Score Girl e o uso bem feito da Nostalgia

Considero Scott Pilgrim uma das maiores aberrações midiáticas dos últimos anos. Ela (seja em quadrinhos ou filme) sintetiza um dos usos mais rasteiros da Nostalgia em produtos de mídia, que é utilizar da mesma forma que os Pokémon nos filme do Pikachu. Sabe aqueles filmes feitos para as crianças apontarem para a tela e falarem “olha, é o [insira aqui o nome do Pokémon que apareceu sem função alguma]“? Então, Scott Pilgrim é apenas um amontoado de referências nerds para que o nerd padrão possa apontar e falar “olha, é tal coisa”, sentindo que sua carteirinha nerd está atualizada.

Esse tipo de uso pobre de referências é chamado em meios mais eruditos como “pastiche”, e nada mais é que utilizar referências a outros estilos ou produtos sem qualquer função para a trama a não ser mostrar como o autor é um poço de conhecimento. No fundo é algo bem egocêntrico, assim como as piadas de um The Big Bang Theory que servem apenas para o público ter o ego validado.

Bazinga

Com tanto uso péssimo de referências ou de nostalgia, ficamos com a impressão que é até impossível fazer isso de uma forma bem feita. Mas, por sorte, sempre aparece algum exemplo fora da curva pra gente quebrar a cara, e foi o que aconteceu comigo com o anime Hi Score Girl, que é do ano passado mas fui ver só esse ano.

Hi Score Girl é ambientada no começo dos anos 90 e conta a história de Haruo, um jovem (e chato pra caralho) garoto gamer que acaba criando laços com duas garotas, a silenciosa Ono (literalmente, ela não tem uma linha de diálogo no anime) e a injustiçada-pelo-roteiro Hidaka. Pois sim, é apenas mais uma história de triângulo amoroso, mas o diferencial dessa série é a respeito do uso de referências.

Ao contrário do péssimo anime GAMERS (alguém ainda lembra disso?), em Hi Score Girls temos o uso jogos reais na história. Ao mostrar o boom dos arcades do Japão e dos consoles caseiros no Japão, a gente acompanha os personagens jogando Street Fighter II, 1942, Darkstalkers, Mortal Kombat e ambicionando comprar um Sony PlayStation. Os personagens compram revistas de games que existiram, frequentam lugares reais e conversam animados sobre o futuro dos games (e nós, do futuro, já sabemos o que vai ou não acontecer).

Tudo isso poderia ser usado facilmente como num Scott Pilgrim, ou seja, com as referências nerds servindo apenas como enfeite enquanto a história se desenrola sem a necessidade desses penduricalhos, mas não. O autor de Hi Score Girl soube muito bem incluir as referências dentro da história, e eles se tornam literalmente personagens da trama.

Haruo constantemente “conversa” com personagens dos games, principalmente seu “mentor” que é o Guile, lutas nos arcades se tornam representações de embates da vida real e por aí vai. Os jogos não são apenas o cenário, eles são a ponte que liga as duas garotas ao Haruo. Enquanto é fácil imaginar a história de The Big Bang Theory sem referências nerds, é impossível desvincilhar Hi Score Girl dos jogos de arcade.

Comecei assistindo como quem não quer nada e terminei encantada por Hi Score Girl. Não só pelo uso inteligente da Nostalgia, como também pela qualidade da animação em CGI (que engana qualquer olho menos atento, ou seja, melhor tipo de animação em CGI), pela forma como o autor conduz a história (te fazendo torcer ora por uma garota, ora por outra) e até pela dublagem feita em Campinas que, tirando um ou outro dublador, está muito competente e com umas adaptações de texto legais.

Queria começar o ano no Mais de Oito Mil com algum post bem esculhambado, mas serei obrigada a começar com uma recomendação mesmo. Assistam Hi Score Girl, está disponível na Netflix.

31 comentários em “Hi Score Girl e o uso bem feito da Nostalgia

  1. Interessante, vou assistir!
    E Scott Pilgrim é uma merda mesmo. Puta que pariu, que troço RUIM. Eu fui ler, todo hypado, e não só a maioria dos personagens eram sem graça (exceto o Wallace e a Kim), como tive o (des) prazer de conhecer o casal mais chato que eu já vi.

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  2. De início achei um tédio. Depois a nostalgia me arrastou pelo pé, e eu já estava torcendo para a Ono soltar um “eu te amo”. Dos 2/3 pro fim, a história te captura e não dá pra largar.

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  3. Olha ai!!! Tbm acho Scott Pelgrim chato pra caralho exatamente pq ele fica esfregando coisas na cara do telespectador como se realmente tivesse uma função.
    O anime parecesse legal, vou deixar na lista pra ver mais tarde.

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  4. Nossa achei que fosse a única que não acha Scott Pilgrim essa coca-cola toda. Não odeio, só acho mais-ou-menos mesmo. Não vou dizer que fiquei com super vontade de ver esse Hi Score Girl aí, mas parece divertidinho, talvez acabe vendo algum dia…

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  5. Nao tenho uma opiniao formada sobre Scott Pilgrim. Mo tempao que vi isso. Ja Animes dublados… mesmo os de Campinas ja sao melhores que nada, sendo que “nada” e p#r& nenhuma de dublagens aqui no Brasil. E se Fairy Tail, One Piece e Naruto Shippuden nunca tivessem sidos dublados em Portugal, eu nunca teria sequer assistido este Nicho… exceto Dragon Ball GT kkkkk este eu assisti kkkkk

    Hi Score Girl agora ta na minha lista. Arigatou, Mara.

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  6. Gamers é tão ruim que dá a volta e fica bom. Mas sabe onde ficaria legal de se falar disso?! No canal do mais de oito mil no YouTube 😉

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  7. Eu achei a forma como eles moldaram o contexto dos Arcades de forma bem feita, mas considero os personagens e a história em si algo estupidamente chato e arrisco dizer fetichista em a até certo nível. Terminei essa temporada no sufoco e não tenho interesse no resto mesmo com o cliffhanger. =/

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  8. eu ja tinha ouvido falar, mas nao assisti, ai vi no netflix, e resolvi da uma chance, assisti todos os ep no domingo kkkkk, e nem vi o tempo passar, quando me dei conta, já estava no ep 12, e pqp, q anime dahora, e eu sou da mesma epoca, claro, nao tinha flippers, grandes na minha cidade, mas eu sempre perdia o troco do pão nos bares, aonde sempre tinha uma ou duas maquinas, o mesmo vale para os consoles, tive os principais no nosso pais, super nintendo, mega drive, neo geo, e depois um ps1. muita nostalgia. a unica parte q me deixou muito puto, eh aquela menina muda, pra que ? a menina ser muda ? a minha favorita, e q eu torcia era a loirinha mesmo, e sentia muito dó dela.

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  9. Cada vez mais parece que eu só entro no blog pra ouvir falar mal de coisa que eu gosto. Me pergunto se isso é um possível desenvolvimento de Síndrome de Estocolmo.

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  10. Vixe, essa dublagem de Campinas quase me fez desistir de ver o anime. Sorte que eu mudei pro japonês antes do primeiro episódio acabar.

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  11. Nem li ainda, mas VENHO QUE AQUI REVELAR QUAL OBRA DE FATO É A MAIOR ABERRAÇÃO MIDIÁTICA DOS ULTIMOS TEMPOS:

    Player n.1.

    AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA
    Q ÓDIO

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  12. Ok, agr já li, tinha visto uns daqueles “gamers raíz”(ou como eu gosto de chamar: chato pra caralho) recomendando esse anime… Pareceu legal né, mas não me atraiu, parece algo interessante pra eu assistir até dormir durante a madrugada :v

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  13. bom post. eu gostaria muito que vossa pessoa, mara, fizesse um artigo sobre kekkai sensen, ou blood blockade battlefront

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  14. “Pastiche” não é nome de tempero ou comida pra passarinho?

    Sobre o anime eu n gostei, a menina fica batendo no cara a toa. Tem que ser muito femista pra gostar dessa merda

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  15. Mara sua bandjida, não vai falar como está a bilheteria e repercussão do filme do Dragon Ball no Brasil? Cadê seu faro jornalístico?

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  16. Não assisti a esse desenho ainda, mas, ao olhar pras ilustrações desta matéria, fiquei meio inquieto com a lourinha com aquela cara de pirraia e os seios daquele tamanho! É como se estivesse olhando… sei lá, pra uma sexualização indevida (ainda que talvez involuntária). Tipo aquela confusão da Sarada no mangá do “Boruto”. Qual é a idade da galera dessa série, afinal?

    (Por sinal, tinha uma linha de cadernos da Tilibra chamada “Menininhas” [versão antiga], cujas capas mostravam desenhos estilizados de jovens garotas que tinham corpo de adolescente e uma cabeçona com um rosto que dava a impressão de uns dez anos a menos. A impressão que eu tinha era a mesma do parágrafo acima. Ainda bem que na versão nova elas têm cara de adolescente mesmo.)

    Quanto ao “Scott Pilgrim”, li e gostei. Embora também tenha achado a profusão de referências desnecessária e descontextualizada, acabei achando uma experiência positiva. Acho que é porque acabei enxergando um pouco da minha história na do protagonista, me lembrando duma época em que eu andava num beco sem saída, num emprego que detestava (mas não o bastante pra procurar outro), namorando uma garota cheia das contradições… Depois superei essa fase, mas ainda sou meio como ele, que é levado às mudanças pelos outros –do contrário, vai ficando, vai ficando…

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  17. Até tentei ter boa vontade com a dublagem disso, mas a gritaria eterna do dublador do protagonista foi demais pra mim.

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  18. Nossa, “Scott – O peregrino” ( obrigado por esse nome Monty Python hahaha) é muito ruim e todos os meus amigos da minha idade (e somos quase ducentenários) adoraram.
    Pra vocês verem que o problema é comigo, porque sou rabugento.

    Sobre o anime, o facebook já meu todos os epis picados, em forma de memes, spoilers, vídeos click baits, enfim. Perdi o interesse.
    Assisti os 2 primeiros episódios e larguei. Eu era rato de taito no inicio dos anos 90 mas o anime nao me pescou.

    Talvez por isso mesmo. Ele nao foi feito pra minha faixa etária. Recomendo mas eu mesmo, não vou assistir não.

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  19. Sobre a dublagem de campinas, ela ta è boa.
    Quem fez foi a Dubbing Company e nao a Up Voice ( como vi em alguns jornais por aí) e eles vem se firmando cada vez mais no mercado e “incomodando” o povinho de rio e sampa.

    (Tudo bem Castlevania ficou muito fraco e até ruim, mas dá um tempo!)

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  20. Inclusive ja falei muito mal deles, aqui mesmo, mas aí vem acontecendo uma sutil mudança nas dublagens de lá, a saber:

    1. Muitos dubladores recentes de lá, se “formaram” nos cursos da dubrasil, empresa do hermes baroli e como rio e sampa torcem o nariz a novas vozes, foram pra campinas. (Inclusive bem indicados pela própria dubrasil)

    2. Alguns bons dubladores com “tretas” com alguns estudios do rio e sampa que geralmente ficam marcados ou queimados no meio e nao sao tao chamados por seus donos pra trabalhar, estao indo dublar em campinas.
    (O dublador do berlim em la casa de papel é um exemplo disso)

    Aí, tipo: vc prefere ganhar menos ou ficar sem trabalhar? Os boletos nao se pagam sozinhos….

    E, como era de esperar, por executar preços mais baixos do que o nicho rio-sampa, empresas de campinas como a dubbing company chamaram a atenção da mega empresa americana Turner, que dentre outras coisas, é dona da CNN, TBS, TCM, TNT, TRUTV, boomerang, tooncast, cartoon network e por aí vai.

    Ou seja, trabalho nao vai faltar.

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  21. Olá. Adorei seu texto. Gostei muito de HSG e a dublagem ficou ótima (destaque pra dubladora da Hidaka).

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  22. ATUALIZANDO: fui assistir antes de dormir de madrugada e acabei vendo tudo de uma vez! Infelizmente caguei pra nostalgia, achei que toda a graça na verdade tá na “imagem”, é simplesmente hilário ver o Guile dando um Sonic Boom na nuca do moleque, ou o Zangief montando nele e tals… O fator “nostalgia” meio que só existe nos primeiros episódios e não muito, também, PORÉM, a história é SUPER FOFA, a Ono e a Hidaka são carismáticas demais pra se escolher uma favorita. Infelizmente o Haruo é um completo retardado a maior parte do tempo, mesmo depois de bem crescidinho… parece até eu :V

    Enfim:

    Curti, inclusive descobri que é do mesmo autor de um mangá que li há muito tempo atrás, Misumisou, simplesmente nada a ver uma coisa com a outra, e na minha opinião é um ponto forte do autor, a História da Nozaki(protagonista do Misumisou) também é muito boa… Se rolasse um filme, teria que ser dirigido pelo Sion Sono xD

    *Acabei de descobrir que ano passado saiu um filme de Misumisou, não é dirigido pelo Sion Sono, tenho que assistir @-@

    https://www.animexis.com.br/2018/02/13/misumisou-novo-visual-e-fotos-do-filme-live-action/

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  23. Fui assistir também por indicação e achei bacana (e os temas musicais grudaram na minha cabeça, ow droga.)

    O comentário do Jherries aí é o que eu ia trazer também: o legal é o carisma DAS personagens (fui atrás do mangá, e pelo visto até onde vi, a Ono não fala nada nunca, apenas ou resmunga ou respira/suspira, e mesmo assim ela chama a atenção) e o quão muitos vão se identificar com o avoado do Yaguchi (toda hora que escutava a dublagem, me perguntava o quão a dubladora da Hidaka pensava em “Yakulti” na hora :p ) e a relação que os três tem.

    É daquelas séries que pode se ocidentalizar fácil, virar uma live action bacaninha ou até uma novelinha no SBT.

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  24. Eu chorei assistindo esse anime.
    Pq cresci da mesma maneira q o protagonista. As referências ao jogos que joguei no fliperama incansávelmente foram demais.
    Muitas cenas foram coisas que vivi. Exemplo a cena que chega a fita cps2 de super street fighter 2 new challenger! O fliperama tava fechando e eu ia embora quando chegou a fita nova!
    “Não sei nada do q está escrito na tela mas eh incrível!!!”
    (No meu caso foi kof2002 e não sf2) xD

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  25. Original VGO, quando você diz que “chegou a fita no fliperama”, você quis dizer que “chegou a fita na locadora” ou que “chegou a placa (pra adaptar em uma outra máquina do mesmo sistema) no fliperama”?

    (Por sinal, dá pra trocar uma placa de máquina tão rápido assim?)

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  26. Chefe O’Hara, dá sim. Depende do Fliperama.

    Sistemas MVS Neo Geo são “fitas” mesmo (falamos “fitas” pelo costume de os primeiros sistemas para computadores serem fitas, e pelo formato do cartucho), e salvo engano, CPS também é uma espécie de Fita/Placa/Cartucho.

    E aprendi recentemente sobre “Sistema JAMMA”, que é a base para criar um aparelho padrão. Se quiser sair de um MVS para CPS, basta tirar a placa principal (ou console) e trocar pelo outro. Simples e rápido.

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  27. Comentário grande. Agradeço quem ler.

    Gostei deste anime. É até engraçado eu esperar que a Ono falasse alguma coisa, mas que a garota não diz uma palavra sequer, só faz resmungos mesmo, como os outros disseram.
    Quando Yaguchi conheceu Ono e ela só batia, ficava “Pô, que menina chata!”, mas aí mostrou que ela leva uma vida bem regrada, aí fiquei de boa, até porque o Yaguchi já a entendia melhor e mesmo ela dando as porradas, ele já sacava do que ela não gostava.
    Mas só que mais pra frente, após o time-skip, talvez por Yaguchi ser um tapado que não presta atenção nas coisas ao redor, a Ono começou, ao meu ver, ser ignorante em relação ao Yaguchi. Pô, o cara queria se aproximar e ela dando porrada sem que nós, telespectadores, entendamos o que a Ono está pensando, sentindo. Sei lá, abre a boca, menina, diga o que lhe aflige, o Yaguchi se esforça pra isso e você fica de birra? Mas aí eles meio que resolveram isso e ficaram de boa.

    Ah, e tem uma cena que achei muito fofa, que acontece durante o ato de loucura da Ono. Pra quem assistiu, deve saber da cena e do que acontece.

    Ah, e achei as sombrancelha da Hidaka meio estranhos. Tipo, mesmo que a pessoa seja loira, os cílios são discretos e não destacam tanto na cor, então, salvo engano meu, aqueles cílios dela ficaram estranhos.

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  28. A Ono ser muda pode ser uma baita referência ao mutismo de protagonistas de jogos de RPG como o Crono, de Chrono Trigger (que não é citado à toa em um episódio), e os demais personagens ao redor é que ficam “verbalizando” o que eles expressam.
    Aliás, Ono e… CrONO!
    Que óbvio, como que pensei nisso só agora!…
    Anime bem divertido de assistir.

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