Aleatoriedades

Cavaleiros do Zodíaco da Netflix PRECISA se afastar da história original

Quando a primeira temporada de “Knights of the Zodiac – Saint Seiya” (para facilitar a partir deste ponto chamarei de “Cavaleiros da Netflix“) a repercussão foi grande, afinal a Netflix estava mexendo na maior memória afetiva do brasileiro nos anos 90 depois da Coca Cola a 1 real. Seiya e os outros são considerados patrimônios nacionais, então todas as mudanças propostas pelo roteirista Eugene Son foram muito mal recebidas pelo público nostálgico: onde já se viu um anime como Cavaleiros do Zodíaco colocar Seiya enfrentando um bueiro? As pessoas queriam mais momentos sérios e dramáticos, como Dócrates fugindo da polícia ou o cavaleiro de golfinho! Mas os fãs da versão antiga precisam me perdoar, mas eu acho que a série precisa se afastar do original de Masami Kurumada.

Não chamarei esses episódios lançados ontem (23) de “nova leva de episódios” porque a própria Netflix está chamando de segunda temporada, eles são os donos e não vou ser eu que vou dizer que estão errados, mas dessa vez acompanhamos o arco dos Cavaleiros de Prata logo após a derrota de Ikki. A princípio me espantou como Eugene Son e a equipe da Toei mantiveram boa parte da história original intacta, como algumas lutas, desenvolvimentos e Saori sendo raptada por uma centena de pombos. Os Cavaleiros da Netflix manteve a proximidade com o original até nos diálogos cafonas do Mestre do Santuário com os cavaleiros de ouro.

Como eu falei no Twitter, estava achando fiel e chato. Não que eu esteja falando que o mestre Masami Kurumada é incapaz de fazer um roteiro interessante, nunca diria isso de um homem que colocou um lutador de boxe bíblico chamado Jesus em um mangá de luta, mas os arcos de Cavaleiros do Zodíaco são o puro creme do clichê e conveniência. Fora que a gente já conhece muito bem, graças às exaustivas e comemoradas reprises. Estava disposta a achar que a nova temporada havia jogado tudo o que havia de legal na primeira dentro do bueiro falante, mas me surpreendi com os dois últimos episódios em que a trama dá uma guinada violenta em direção ao absurdo.

Não vou colocar spoilers muito específicos, porque o grau de maluquice oferecido nos dois últimos episódios é um desbunde, mas saiba que temos uma invasão a uma fábrica do mal, um vilão doido com armadura do Shovel Knight tentando estocar Cosmo tal qual a sustentável ex-presidenta Dilma e uma forte (e eu digo forte MESMO) insinuação de que Mistumasa Kido e o Sr Gurad formam o primeiro casal LGBT canônico de Saint Seiya.

A cada nova reviravolta, a cada luta com capanga e a cada helicóptero invocado graças ao poder do Cosmo eu só pensava… precisamos mais disso!

Por mais que os fãs ferrenhos de Cavaleiros do Zodíaco rejeitem a nova animação por tramas supostamente cafonas como máquina de armazenar cosmo e lutas contra aeronaves militares, será que essas tramas são muito diferentes do que a Toei colocava no irretocável anime dos anos 80? Será que se a produtora tivesse colocado essa mesma trama absurda com o traço do Shingo Araki no anime original as pessoas estariam nostálgicas com isso? Não sei dizer, mas sempre devemos lembrar que Cavaleiros da Netflix é uma produção feita para o público de 2020, e não para quem tem a cabeça nos anos 80.

A julgar pelos 12 episódios já lançados, o que o novo anime tem de melhor é o humor, a aceitação da cafonice e personagens que ficaram mais carismáticos através de personalidades menos genéricas. É isso que precisa ser mantido na próxima temporada.