Como uma privatização dos Correios pode afetar o mercado de mangás?

Foi anunciada na semana passada uma lista com várias empresas que o atual governo pretende privatizar, e uma dessas são os Correios. É até difícil encontrar pessoas 100% satisfeitas com o serviço, e muitas inclusive lembram do buraco negro de Curitiba (que, como já lembraram nos comentários, nada tem a ver com os Correios), mas uma privatização pode ter uns pontos negativos que muitos não estão levando em conta. Eu poderia simplesmente falar meus achismos como qualquer outra pessoa na internet quando quer fingir conhecimento em assuntos, mas fiz diferente. Procurei duas pessoas do meio dos mangás para saber como uma eventual privatização dos Correios vai afetar esse nosso pequeno nicho.

Do ponto de vista de quem produz mangás no Brasil, apenas um terço das editoras (ou seja, UMA) seria afetada por uma privatização dos Correios. Enquanto a JBC ainda não conseguiu fazer uma lojinha online (até uma LOJA FÍSICA conseguiu ficar pronta antes) e a Panini conta com dinheiro infinito, uma editora como a NewPOP depende dos Correios para distribuir sua mercadoria. Lembre-se que a NewPOP foi a primeira a pular fora da distribuição de bancas e passou a vender coisas apenas para livrarias, lojas especializadas e sua própria loja online.

Junior Fonseca, o dono da NewPOP, explicou ao site que normalmente já consegue custos melhores com os Correios por ter um contrato. Embora ele não saiba como ficarão os preços em uma eventual privatização, ele afirma que as distribuidoras privadas de encomenda têm suas dificuldades em executar o serviço. “As demais distribuidoras cobram valores maiores e nem entregam em todos lugares”, explicou.

Se por um lado a preocupação de uma privatização ainda parece distante, até por ser bem incerta ainda, para quem produz os mangás, a rede de distribuição já tem uma visão mais pessimista da coisa. Conversei também com Henrique Lanute, o dono da loja Capitão Onigiri, e ele avaliou de forma parecida à do dono da NewPOP. “Com certeza a precificação seria diferente”, e ao ser perguntado se o preço seria mudado para algo maior ou menor, rapidamente ele avaliou: “maior”.

Embora enxergue uma possível melhora no serviço atual com uma privatização, o lojista percebe que a abrangência deve cair. No fim, quem se ferraria mais são as lojas pequenas, que veriam um aumento nos custos, e os compradores de regiões mais distantes do país que encarariam um frete maior. 

Muito se engana quem pensa que os Correios têm exclusividade nas entregas pelo país. Embora eles tenham monopólio na entrega de correspondência e no serviço postal militar, já existe concorrência para o envio de pacotes (modalidade usada pelas editoras de mangás). No caso a utilização dos Correios acontece por ser mais barato e ter uma área de atuação muito mais abrangente, sem precisar cobrar o preço de um rim ou de um primeiro volume de mangá raro.

Após um período de prejuízos, os Correios parecem ter se encontrado e passaram a dar lucros desde 2017. Uma saída para a empresa seria pensar em novas formas de negócio. “Pra ser sincero, os Correios estão bem mais tranquilos para se trabalhar. A melhora que espero seria em algum plano voltado para o e-commerce, com vantagens reais. Atualmente não oferecem muita coisa.”, finalizou o dono da Capitão Onigiri.