Com o anúncio de Banjo e Kazooie como personagens do DLC do Smash Bros Ultimate, a série da Rare (e uma das minhas favoritas do mundo gamer) voltou aos holofotes… com todo mundo reforçando a ideia de que a Nintendo resgatou o BANJO RAÍZ, e não a ~tosqueira~ do Banjo-Kazooie Nuts & Bolts (o último jogo da dupla, lançado em 2008 para Xbox 360). Como fã do último jogo da série, preciso levantar a pergunta: será que foi mesmo uma tosqueira?
Este é o Mais de Oito Mil, um site basicamente sobre cultura japonesa. Mesmo sendo meu site, eu tenho certas limitações de assunto, pois eu preciso encaixar no meu escopo de alguma forma. Já falei sobre desfile de carnaval através de Cavaleiros do Zodíaco, programa de namoro devido à participação de uma otaka e até falei sobre a morte de uma vilã de novela quando ela foi perseguida por cosplayers em um delírio. Por isso, eu não poderia falar de Banjo-Kazooie Nuts & Bolts, feito por uma desenvolvedora inglesa para um console norte-americano… mas se eu considerar que o Smash é um jogo japonês, agora tô autorizada a falar sobre o assunto. BORA!

Banjo-Kazooie foi lançado para Nintendo 64 em 1998, época em que a modinha do momento era lançar trocentos jogos de plataforma com coisas colecionáveis, todos surfando na onda do Mario 64 (lançado dois anos antes). Eu diria que Banjo-Kazooie foi melhor na arte de pegar todos os conceitos introduzidos pelo Mario 64 e expandi-los em um jogo com mecânicas gostosas de usar e misturado com um senso de humor beeem inglês, em que os personagens quebravam a quarta parede com frequência. Isso se refletia também no gameplay, pois eles sabiam que estavam num videogame e o próprio jogo brincava com as expectativas do jogador. A primeira parte da batalha final contra a bruxa Gruntilda, por exemplo, era em um quiz sobre as coisas que o jogador passou pelo jogo, e isso era muito incrível. Banjo-Kazooie foi uma joia bem lapidada, um fruto do seu tempo.

A continuação Banjo-Tooie (cujo título já tinha sido spoilado no final de Banjo-Kazooie), no entanto, foi reflexo da megalomania da Rare. O jogo de 2000 foi lançado um ano após Donkey Kong 64, que é um DESASTRE como jogo de plataforma por ter sido projetado de forma a ser muito grande, mas infelizmente de uma forma que divirta o jogador. Banjo-Tooie pegou um pouco dessa pretensão, e apresentou um jogo que era muito maior do que o Nintendo 64 poderia realizar. Multiplicaram os poderes da dupla principal, separaram eles, criaram mundos interconectados, diversas missões que se resumiam a pegar algo de um personagem A no mundo X e levar até o personagem B no mundo Y, até botaram um personagem jogável a mais. A quantidade de tarefas a serem feitas em cada mundo ficou muito extensa em um jogo que não era tão divertido assim. O lado plataforma, tão bem executado no primeiro, foi jogado de lado para se tornar uma espécie de Zelda em que não existe as dungeons, só as missões de troca.
Chegamos no principal ponto da história. A Rare, que era bff da Nintendo, foi vendida para a Microsoft no começo dos anos 2000 e passou a produzir seus jogos para os consoles da linha Xbox (e também pro Game Boy Advance, mas isso não importa para essa matéria). Durante muito tempo as pessoas torciam para um verdadeiro jogo plataforma noventista, e em algum ponto a empresa anunciou uma continuação chamada Banjo-Kazooie Nuts & Bolts em 2008.

O jogo foi detestado por público e crítica, pois havia se afastado do gênero plataforma e introduzido uma mecânica de construção de carro (!?). E assim morreu a franquia, até ela ser ressuscitada pela Nintendo como personagem DLC do Smash. Eu não joguei Banjo-Kazooie Nuts & Bolts no lançamento, porque na época eu estava muito contente com meu Wii. Mesmo sem jogar, eu assumia as críticas negativas como verdade e não queria me aproximar daquele jogo… até que em 2012 comprei um Xbox 360 e encontrei esse jogo bem barato. Por que não testá-lo?
Talvez você não saiba do que se trata o jogo, então vou explicar um pouquinho. Em Banjo-Kazooie Nuts & Bolts temos os personagens do jogo original vivendo suas vidinhas pacíficas na Spiral Mountain, anos após derrotarem a Gruntilda pela segunda vez em Banjo-Tooie… até que a cabeça da bruxa consegue escapar de onde estava presa e parte para a porrada com a dupla (que ganhou muitos quilos desde o último jogo). A luta dos personagens é interrompida por uma misteriosa tela de PAUSE, e então aparece o Lord of Games, nada menos que o criador de todos os jogos existentes no mundo.

Como entidade suprema desse universo (e precisando se divertir um pouco), ele decide colocar Banjo e Kazooie em uma disputa com a Gruntilda. “Como manda a tradição de Banjo-Kazooie, vocês precisarão coletar um monte de tranqueiras colecionáveis em um cenário tridimensional“, ordena o Lord of Games, e aí nós como jogadores controlamos a versão obesa de Banjo tentando coletar itens brilhantes que poluem a tela. Mas aí o Lord of Games percebe que esse tipo de jogo é um pouco velho, e o público da atualidade, fã de jogos de tiro, não gostaria de ver isso. Ele então pensa em uma disputa mais moderna: a bordo de veículos customizáveis, eles precisam participar de missões em troca de peças de quebra-cabeça douradas. É igual antes, mas diferente.
Discordo muito da opinião de que o Nuts & Bolts se afastou do jogo original, porque eu enxergo a essência dele ali. Banjo-Kazooie era basicamente um jogo de aventura e exploração que se apropriou das mecânicas de Mario 64, pois era “o gênero daquela época”. Mas mesmo usando essa “skin” de jogo de plataforma como formato, Banjo-Kazooie sempre foi crítico ao zoar os clichês desse tipo de jogo. Já em Nuts & Bolts, o foco novamente é a aventura e exploração, mas dessa vez o jogo preferiu colocar isso em uma roupagem de velocidade e tiro, até porque o mercado de games mudou muito nos 10 anos que separam esses dois jogos. E, como dá a entender na cena de introdução, a mesma crítica é aplicada ao tipo de jogo que fazia sucesso na época do lançamento.
Os fãs criticaram Nuts & Bolts por fugir do gênero de plataforma 3D dos anos 90, sem perceber que o gênero não vem sendo trabalhado decentemente desde então. Com o advento da tecnologia, era fácil fazer os jogos de antes com proporções maiores, mas isso não necessariamente fazia o jogo ser bom. Até mesmo atualmente existe essa dificuldade em se trabalhar com jogos de plataforma: vamos lembrar que Yooka-Laylee, o tal “sucessor espiritual” de Banjo-Kazooie, recebeu críticas por ser grande demais, e de exploração chata. Lembra de outros jogos que têm a mesma característica? COFCOFBanjo-TooieDonkeyKong64COFCOF.
A grosso modo, no entanto, Nuts & Bolts é o mesmo jogo de plataforma de sempre, pois novamente temos Banjo e Kazooie em mundos 3D gigantescos e precisando realizar missões em troca de peças de quebra-cabeça. Mas em vez de botar os personagens a pé nesses terrenos que levariam séculos para se atravessar, o jogo coloca os dois personagens em um veículo customizável. E a graça dele está nessa sacada.
Você tem total liberdade de construir o veículo que quiser nesse jogo, basta juntar as peças necessárias. Quer fazer um tanque de guerra? Pode. Um avião? Pode. Um triciclo? Também dá. E você precisa customizar o veículo necessário para cada missão, pois um carro de corrida pode ser muito bom em uma missão de velocidade, mas pode te atrapalhar em uma missão de transportar objetos. O jogo dá todas as ferramentas para você resolver os problemas da forma que quiser. Uma vez, precisei passar por uma missão de transportar um objeto do ponto A ao ponto B, e tive dificuldades. Procurei por um vídeo na internet e vi que a pessoa criou um helicóptero com um ímã na parte de baixo e conseguiu cumprir a tarefa, mas eu não tinha esse equipamento ainda. Na base do improviso, criei um veículo pesado cuja parte da frente parecia um chifre de besouro, e resolvi a missão empurrando o objeto como se não houvesse amanhã. Deu certo também, ao meu jeitinho.

Eu enxergo dois grandes “problemas” em Nuts & Bolts, e curiosamente nenhum deles é culpa da Rare. O primeiro é a fanbase de Banjo-Kazooie, que estava tão preocupada em rejeitar um jogo que não era idêntico àquele de dez anos atrás que não conseguiu enxergar os méritos de um jogo novo com a mesma energia do original. Escutar fã é um negócio muito complicado, porque normalmente eles se recusam a sair da zona de conforto e fazem exigências como se eles soubessem o que é bom para a franquia (isso serve para qualquer mídia).
O outro “problema” do jogo foi ele não ter saído hoje em dia, pois Nuts & Bolts é exatamente o que todas as produtoras estão tentando fazer agora em 2019. Estamos vivendo uma época em que não apenas jogamos muito, mas assistimos muito. Milhões de jogadores ao redor do mundo acompanham transmissões de jogos por vídeos em streaming, e os jogos que têm mais apelo com o público são aqueles que permitem múltiplas formas de se jogar, tipo os battle royale em que cada partida é única.
A graça de ver uma pessoa jogando um Breath of the Wild por streaming é ver como ELA vai fazer as coisas, pois o jogo permite que cada pessoa jogue de uma forma diferente, e isso não necessariamente acaba com o seu prazer de jogar por conta própria depois. Algumas produtoras têm se empenhado em criar jogos abertos para que cada pessoa jogue de uma forma própria, para tornar os jogos streamáveis. Watch Dogs Legion, anunciado agora na E3 de 2019, tem muito disso ao oferecer centenas de personagens variados para se cumprir as missões. Nuts & Bolts trouxe essa possibilidade, mas numa época muito antes dos streamers.
Não estou dizendo que Nuts & Bolts é um cristal sem defeitos, o jogo sofre um pouco de lentidão quando tem muita informação na tela, e demora um pouco para se acostumar com os controles. Os temas dos mundos são legais, mas não entendi muito por que em um jogo que transpira referências ao mundo dos games tenha optado por usar a televisão como tema para os cenários.
Acredito que a participação de Banjo e Kazooie no Smash possa trazer um pouco de relevância aos personagens, mas pode ser perigoso um revival. As pessoas ainda têm muito na cabeça que Banjo-Kazooie precisa ser um jogo de plataforma 3D como vinte anos atrás, mas esse é um gênero ainda muito difícil de se replicar com qualidade hoje (Yoka-Laylee deu errado por ser grande demais, já A Hat in Time acertou por ser “mais compacto”).
De qualquer forma, Banjo-Kazooie Nuts & Bolts está aí só esperando para ser descoberto. Ele foi lançado para Xbox 360 em 2008, esteve na coletânea Rare Replay lançada em 2015 para Xbox One e ele está na retrocompatibilidade do console.
Mara, o que achou do novo BattleToads?
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Acho que vale acrescentar que o jogo está disponível “de graça” pra quem é assinante do Xbox Game Pass no Xbox One.
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Nossa, interessante o texto. Mas pensando nisso tudo que você disse, será que Nuts & Bolts não teria uma aceitação maior se tivesse saído pro Wii?
Pq as viúvas de Banjo-Kazooie (eu incluso) sentem falta da Rare não só dela em si, mas do casamento com a Nintendo, no qual teve muito mais altos do que baixos.
E eu vi as críticas à Yooka-Laylee também, foi isso e a falta de algo novo. A continuação anunciada eles até mudaram totalmente as câmeras de 2D e 3D, acho que vão tentar beber da fonte do Mario Odyssey, se vai dar certo, eu não sei.
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Ufa! Achei que a Mara ia sacar a carta virada para baixo “o site é meu e falo do que eu quiser nele”, mas ainda bem que não saiu do tema.
Assim como o Sano, eu também pensei na possibilidade do hate ser um pouco de dor de cotovelo dos fãs da Nintendo ao ver um jogo da série em uma plataforma da concorrência…
Aliás, uma curiosidade interessante, se você pesquisar por “Banjo-Kazooie: Nuts & Bolts” no Google, também tem uma análise positiva sobre ele no Xbox Blast entre os primeiros resultados, sinal de que o jogo não é tão ruim quanto dizem (Ou é apenas um sinal de que a Mara concorda com o autor da análise, um tal de Fábio Garcia).
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Não estou dizendo que Nuts & Bolts é um cristal sem defeitos, o jogo sofre um pouco de lentidão quando tem muita informação na tela, e demora um pouco para se acostumar com os controles. Os temas dos mundos são legais, mas não entendi muito por que em um jogo que transpira referências ao mundo dos games tenha optado por usar a televisão como tema para os cenários.
– Por isso que não deu certo.
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Mara, e o Super Lucky’s Tale, você já jogou?
E falando em E3, você poderia falar da reação do pessoal que estava na loja da Nintendo em NY assistindo a Direct. Foi bem engraçado, o pessoal tava louco!
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Não joguei Banjoo e Kazooie, então n vou entra no merito de qualidade.
Só quero destacar o exagero da fanbase em dizer q resgatou a franquia. Cara é só uma participação especial em um crossover q aparentemente entra qualquer jogo q tenha feito ou faz o minimo de sucesso e n tenha embargos de licença. Nada garante q após isso os personagens n caiam no esquecimento de novo. É de um exagero bizarro ao meu ver, engraçado vai ser se o personagem n for tão bom de jogar.
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Só resgataram porque o primeiro jogo é lembrado até hoje como bom, e como ele era de um console da nãointendo…
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Eu nunca joguei DK64 até recentemente, então não entendia muito bem as críticas. Quando eu joguei de fato… entrei em mil buracos e ainda não sei onde começa a primeira fase.
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Seu texto é muito bom. São legais os pontos que você levantou a título de análise e informação mas, pra mim, o jogo é ruim mesmo.
Eu consigo jogar uma meia hora. É divertido, mas não.
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Não acho realmente que o jogo seja realmente péssimo. Entendo que a expectativa por um jogo mais tradicional tenha sido alta na época, pois quando falava-se de Banjo o que se esperaria era um jogo como os anteriores, ainda mais pois antes de Nuts & Bolts sair, o projeto original era Banjo Threeie. Eu prefiro enxergar Nuts & Bolts como um spin-off que recebeu uma responsabilidade maior do que poderia suportar.
Vendo hoje o diálogo inicial com o Lord, ele apenas faz um humor auto depreciativo com o gênero que consagrou a série, mas também entendo que pra muita gente soou como mero desrespeito ao que todo mundo queria ver de volta. Espero que assim como foi com o Megaman, Ter Banjo-Kazooie no Smash seja um experimento pra quem sabe ver os dois estrelando um plataforma tradicional no Switch, novamente catando referências do Mario (aquela lindeza do Odissey).
– o visual deles no Nuts & Bolts realmente não dá pra engolir hahaha
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Realmente não é um jogo ruim ( porém também tem seus problemas), mas o maior problema mesmo para mim é ele ser um jogo do Banjo. Como você disse, dá pra ver um pouco da essência dos jogos antigos nele, mas isso acaba sendo um ponto contra também, o jogo não sabe se ele quer ser o Banjo de 1998 ou o Banjo de 2008, faz com que o jogo não tenha uma identidade sólida. Se ele tivesse se mantido como um jogo de plataforma e incorporado esses elementos dos construção de veículo acho que ele teria tido mais sucesso.
Muitos outros fatores também prejudicaram o jogo, ele ter sido lançado muito tempo depois e ser extremamente diferente sendo que havia hype e uma promessa de ele seguir o legado dos jogos antigos em uma nova geração de consoles, ele ter sido o ultimo jogo da franquia, até o momento, e deixar um gosto amargo na boca de quem não gostou, e agora com mais ainda com o personagem de volta com um visual moderno mais agradável ( eu acho o de Nuts&Bolts fei dimais kkkk) e sendo tratado com muito carinho e trazendo várias referências (mas acho que isso é mais mérito de Smash e do Sakurai), dando aquela ideia de “como poderia ser se tivesse se as coisas fossem diferentes”.
Enfim, como eu disse, não acho que é um jogo ruim por si só, mas como um jogo de Banjo não acho que ele seja bom.
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