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A festa da maioridade da NewPOP Editora

Não é todo dia que uma editora completa 10 anos de idade. Ok, essa frase pode se aplicar para qualquer outro número, mas a entrada nos dois dígitos é algo que deve ser comemorado. Ainda mais se for uma editora de quadrinhos. E ainda mais se for uma editora cuja principal base são os mangás. Por causa disso, a NewPOP Editora fez uma grande comemoração no dia 21/01 para comemorar seus dez anos de existência, e o negócio foi praticamente uma festa de debutante para a terceira maior editora de mangás do Burajiru. E como eu adoro uma festa e uma boca livre, fui junto com o estagiário do Mais de Oito Mil (sim, agora tenho um estagiário!) conferir essa party.

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O local escolhido, assim como no evento anterior, foi o Naniwa Kai, um palquinho com nome japonês ao lado do metrô Vila Mariana. Já na entrada eu fui recepcionada pelo pai da aniversariante, o Junior Fonseca. Com cara de cansado e com a mesma aparência há pelo menos uns 15 anos como se dormisse em criogênio, o próprio dono da editora explicou como estavam funcionando as instalações naquele dia. Além do palco e das cadeiras do público, havia uma área separada com estandes da Editora Draco e da própria NewPOP, além de um cantinho para você fazer sua caricatura de graça. Faltou só uma cabine fotográfica com acessórios cafonas para realmente ser uma festa de debutante real.

Logo me acomodei nas fileiras que Junior separou para a Imprensa Especializada (pff) e, assim como em festas de família, precisei bancar a simpática com os redatores dos outros sites mesmo sabendo que eles tentavam sabotar a minha cobertura. O redator do Crunchyroll, por exemplo, tinha o dom de se enfiar na frente de todas as minhas fotografias, prejudicando meu compromisso de informar os leitores no Twitter.

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Para melhorar o valor agregado de sua festa, Junior Fonseca convidou diversas pessoas para palestras que serviram de esquenta para sua própria apresentação. A primeira reuniu representantes de grandes sites (excluindo o Mais de Oito Mil que de grande só tem minha bunda) discutindo quais são os pilares que sustentam um bom mangá. Obviamente não se chegou a conclusão alguma, mas podemos marcar em nossos Death Notes o nome dos convidados que citaram Cavaleiros do Zodíaco e Bleach como mangás bons.

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A palestra seguinte foi sobre No Game No Life, reunindo a tradutora das novels e fãs especialistas que a todo momento faziam piadas recorrentes sobre personagens andróginos. Tal qual aquela parte da festa de debutante que vemos uma apresentação de slides com fotos da aniversariante, esse foi o momento que todo mundo aproveitou para tirar a água do joelho, consumir uns belisquetes e ler aquela edição atrasada de mangá. Até mesmo a Imprensa Especializada como desculpa a exploração do Naniwa Kai para encontrar um canto afastado do palco pra ficarem conversando sobre trivialidades.

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Na palestra sobre quadrinho nacional, grandes representantes dos quadrinhos eternamente adiados como Fábio Sakuda (ex-Ação Magazine e autor do anunciado-há-anos DeadZone) e Douglas MCT (de Hansel & Gretel) se uniram a Fabrizio Yamai e a Raphael Fernandes da editora Draco para conversarem sobre o mercado, sobre suas deficiências e para desanimar quem sonha em ser desenhista e tem um traço tão bom quanto o One.

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Por fim chegou a hora mais esperada da noite. A trilha sonora local em loop de aberturas de animes cujos mangás foram licenciados pela NewPOP sumiu e deu lugar ao pai da aniversariante, Junior Fonseca, subindo ao palco. A Imprensa Especializada (pff) voltou às cadeiras reservadas para fazer seu trabalho de cobrir os anúncios que seriam feitos e repercuti-los em suas redes sociais.

Junior Fonseca, aliás, é um anfitrião diferente de Beth Kodama da Panini ou Cassius Medauar da JBC. Embora estes dois sejam idolatrados pela fanbase dos mangás e seus posts nas redes sociais virarem meme e notícia, não muda o fato que eles são apenas funcionários de empresas que não sabemos nem quem são os donos. E mesmo se considerarmos Junior como dono, ele tem um porte que o diferencia dos tradicionais engravatados. Primeiro ele comparece ao próprio evento com uma roupa próxima aos otakus que estavam ali presentes, esbanjando uma exótica combinação de cores e acessórios excessivos. Segundo porque ele evita ao máximo dar aquela levantadinha fake na moral de sua própria editora.

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Eu explico: se você acompanha o Mais de Oito Mil deve saber que já criticamos muito a NewPOP. Ela tem problema com periodicidade, com revisão, de prometer muita coisa e demorar pra lançar etc, e sabe o que Junior faz em sua palestra? Cita exatamente todos esses itens. Assume que tem problema com periodicidade e revisão (e que tem tentado melhorar nas duas) e explica que anuncia muitas coisas porque a editora não pode parar, sempre está negociando novos títulos senão fica pra trás. Até a própria posição de terceiro lugar é comemorada e zoada ao mesmo tempo por Junior, que afirmou “tudo bem que muita gente pode achar que não é grande coisa ser uma das 3 maiores editoras de mangás do Brasil“.

Junior então passou um videozinho com os anúncios deste evento, mas nem vou focar muito nisso porque todo o foco dos outros sites da Imprensa Especializada (pff) foi apenas nisso. Sim, rolou anúncio de Madoka Magica The Rebellion Story, dos yuris Sunset Orange e Philosophia, de Happiness, Clockwork Planet e Koe no Katachi (quando falaram desse, urros de orgasmos otacos foram ouvidos de vários cantos da plateia e da Imprensa Especializada), mas nem é o mais importante a ser discutido nessa matéria.

Inegavelmente a NewPOP é um projeto que dá prazer ao Junior Fonseca. Enquanto não sabemos se os donos da JBC consomem quadrinhos ou mesmo se os investidores da multinacional Panini fazem ideia de que publicam mangás no Burajiru, Junior Fonseca está ali se misturando com os otakus porque gosta de quadrinhos. Boa parte das propostas da NewPOP, como oferecer títulos de qualidade e por um preço em conta, são desejos que o próprio Junior como leitor de mangá. E é tão difícil vermos um empresário que fala tão abertamente (e naturalmente) de seus defeitos que não tem como não aplaudir a NewPOp por esses 10 anos.

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E talvez o momento mais importante da tarde (afinal Junior Fonseca decidiu adiantar sua apresentação para que os otakus não ficassem presos na chuva torrencial prevista para o fim do dia na Vila Mariana) foi que todo mundo no Naniwa Kai viu a NewPOP atingindo a maioridade diante de seus olhos. Depois de lembrar títulos importantes para sua editora, como os clássicos de Tezuka e os mangás da CLAMP, Junior anunciou que a editora trará seu primeiro mangá longo para o Brasil, e vai começar justamente com o clássico GTO – Great Teacher Onizuka, mangá de 25 volumes que tinha aquela aura de mangá-nem-tão-velho-e-nem-tão-novo-que-nunca-vai-sair-no-brasil-porque-nem-fudendo-a-jbc-ou-a-panini-trariam.

Vou continuar criticando a NewPOP, com certeza. Quando atrasar títulos, quando prometer e não lançar, quando rolar uma revisão ruim e até quando mandar contratos picotados acidentalmente para compradores. No entanto, nesta matéria, vejo apenas motivos para aplaudir o amadurecimento da NewPOP e dar um tapinha nas costas do Junior falando que a filha dele já tá uma adulta bem bonita.

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(ok, vou zoar só um pouquinho também)

15 comentários em “A festa da maioridade da NewPOP Editora

  1. Sempre um deleite as coberturas dessa blogueira destemida, sempre disposta a se misturar com a gentalha e enfrentar as sabotagens da concorrência para nos trazer informação.
    Só uma correçãozinha, Mara! Os yuris anunciados foram Philosophia e Sunset Orange. Happiness é shonen.

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  2. Nunca pensaria que newpop pegaria gto. Isso que e desafio com essa periodicidade kkkkk.

    Mara falando bem de newpo? Deve ter fonseca no face e virado seguidora no twiter so pode hahahahaha

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  3. Como sempre você é a competência em fazer a análise. Sou muito fã mesmo do seu trabalho e, é claro, morrer de rir. Sou um grande apreciador da NewPOP. Pelos títulos e o relativo cuidado com o público. Comigo pelo menos. Sempre me respondem de imediato nas Redes Sociais quando tenho queixas dos erros em NGNL. Acredito que a editora deve manter sempre essa imagem de algo “mais caseiro e pertencente ao fandom”. Lógico que ela deve sim almejar crescer. Crescer seria suficiente em quesitos como qualidade e comprometimento. O resto é consequência da aceitação dos fãs-consumidores. Bom texto o seu!

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  4. Parabéns à editora e ao seu proprietário! O comentário do Saylon acima só me lembrou daqueles anúncios de cooperativas médicas: “Aqui você é atendido pelo dono”.

    Pessoalmente, acho que o atraso nas publicações até ajuda no orçamento! Os únicos problemas que vejo nas edições são o de certas escolhas de nomes de personagens nos quadrinhos do Tezuka, quando já havia opções até consagradas quando da exibição dos desenhos* e o da adequação dos vocativos nas perguntas e exclamações**. De resto, tá ótimo!

    * Tipo a filha do Don Drácula ter passado de “Sangria” pra “Chocola”: pode até ser o nome original, mas pra brincadeira funcionar você tem que saber que existe nos Estados Unidos um cereal do tipo Sucrilhos chamado “Count Chocula”, com um vampiro na embalagem. Ou a leoa do “Kimba” que era “Leona” no desenho e virou “Raiona”. Ora, se você souber um mínimo de japonês e parar pra pensar, verá que esse nome é um “ajaponesamento” de “Liona”, que se refere a “lioness” (“leoa” em português ou “leona” em espanhol).

    ** Me refiro aqui àquelas conversas cujas frases que começam em um balão e terminam em outro, este contendo apenas o nome do interlocutor pra dar ênfase. Só que aqui, separamos o vocativo com uma vírgula, enquanto eles usam a interrogação/exclamação. Assim, se uma frase escapa à revisão, terminamos com pérolas como “Aonde você vai? Abelardo.” em vez de “Aonde você vai, Abelardo?” ou “Tome cuidado!!!!! Maria.”, em vez de “Tome cuidado, Maria!!!!!” Meus Mangás são repletos de correções a caneta desses erros. (Aliás, tudo que leio tem correção! A campeã é a edição brasileira dos romances da série “Dragonlance”!)

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  5. Poxa, se tivesse tido sanduíche de carne louca seria um evento 10/10. *—*
    E falando sério, gostei do post. Realmente, ver em eventos os japas vovôs da JBC ou seja-lá-quem-for o(a) dono(a) da Panini é impossível.

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  6. Legal a matéria. É compreensível os problemas que a NewPop passa pra poder lançar os mangás em banca, o mercado não é mais o mesmo e eles até se “esforçam” pra que alguma coisa chegue por aqui.

    Mas mangá da NewPop aqui ainda é lenda urbana por aqui, infelizmente. Até porque são títulos muito específicos pra um público o que afasta a popularidade dos títulos da editora e seja uma Nintendo dos Mangás.

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  7. fala a verdade Mara, ta puxando a sardinha do Junior porq está pegando ele, fala a verdade, essa cara de novinho ai q ele tem. tenho 25 anos e ele parece mais novo q eu.

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  8. ”excluindo o Mais de Oito Mil que de grande só tem minha bunda” Tenho interesse

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  9. Eu compro os mangás do Tezuka que eles lançam ainda.

    Tomara que não vão a falência.

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  10. Editora de nicho mesmo, sem ambição de expansão.

    Uma pena que GTO é um lixo.

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  11. essa matéria mostra que mesmo pegando no pé, a Mara é uma boa pessoa kk
    Eu fiquei emocionadinha com o reconhecimento do trabalho do cara.
    Às vezes, honestidade é a melhor qualidade que se pode ter!

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