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Quanto custariam hoje os primeiros mangás publicados no Brasil?

Não sei vocês, mas é um sofrimento muito grande chegar na banca e ver meus suados dinheirinhos indo embora quando compro aquela republicação requentada de um mangá meio tanko cuja edição original hoje se esfarela na minha mão. Olho aqueles preços acima dos 15 reais e penso “esse mundo está perdido, os mangás estão o olho da cara… bom mesmo era quando a JBC publicava coisas a 2,90, a Conrad a 3,90 e o brasileiro era feliz“. Embora numericamente seja uma crítica correta, será mesmo que aqueles 2,90 eram mais baratos que os preços atuais?

ISSO MESMO, MINNA. É HORA DE RESSUSCITAR A SEÇÃO MAIS PEDIDA POR TODOS OS LEITORES DESTE BLOG!!!!

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Que saudade eu tava desse Vegeta investigador. Assim como a moral dos cosplayers nos programas matutinos, a nossa moeda atual foi sofrendo desvalorização com o tempo, então o que era 2,90 lá em 2001 não significa o mesmo atualmente (vamos lembrar que o salário mínimo começou valendo uns 60 reais). Para fazer o cálculo de transformar o valor do passado em quanto custaria hoje, vou usar como base o conversor de moeda do Acervo do Estadão.

Embora o método não seja válido para conversões oficiais, ele dá uma boa ideia de valores ao comparar o preço antigo ao valor do Estadão na época e fazer a conversão para os valores atuais. E como mangá também é algo impresso, tá tudo na mesma categoria então podemos assumir que os valores são semelhantes. Ah, também vou explicar que todos os valores de mangás meio-tanko serão multiplicados por DOIS, assim fica o equivalente a um tanko inteiro que é a forma como os mangás são publicados hoje no Burajiru.

IKIMASU então fazer umas contas e ver se os mangás estão mesmo caros hoje em dia?

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Começamos com o Pokémon Quadrinhos publicado pela Conrad em 1999 aproveitando o anime e já começamos levando um tiro. Você acredita que esse mangá de 52 páginas custa OITO REAIS? E se fizermos as contas para transformar em um tanko equivalente ao original do Dengeki Pikachu, o valor vai para TRINTA E DOIS REAIS POR UM TANKO. Nossa economia era maravilhosa nos anos 90, não acham? Sorte que a internet discada impedia os otakus de xingarem muito no Twitter (que seria inventado sete anos depois).

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MEU KAMI-SAMA DO CÉU, como assim duas edições meio-tanko de Dragon Ball da Conrad custariam atualmente mais de vinte reais? Agora faz até bastante sentido por que a Conrad teve a ideia de dividir os mangás em dois para aliviar os brasileiros. E pior: na época era quadrinho barato, porque os da Marvel e DC custavam quase o preço de uma casa própria!

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A JBC entrou no mercado em 2001 lançando quatro mangás de uma vez: Sakura Card Captor, Samurai X, Guerreiras Mágicas de Rayearth e Video Girl Ai, todos com formato menor que o da Conrad e papel jornal (Rayearth era um pouco maior e um pouco mais caro pra ficar parecido com o original). Quem diria que aqueles 2,90 hoje em dia renderiam um tanko de quinze reais?

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E quando a Conrad decidiu lançar Evangelion, ela fez um formato bacanudo, papel legal e páginas coloridas nas edições ímpares. Pena que o luxo foi agregado ao valor, porque se fosse uma versão tanko o Evangelion custaria salgados VINTE E UM REAIS hoje em dia.

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A surpresa foi quando a Panini decidiu entrar no mercado de mangás lançando o sonífero e ultrashippado Gundam Wing num formato minúsculo que contribuiu para o aumento do grau de miopia em parte dos otakus de 2002. E o que dizer do valor? Bem, está compatível com os mangás de hoje, mas tinha uma qualidade sofrível…

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O valor mais justo continuou sendo aplicado nos lançamentos seguintes da Panini, Éden e Peach Girl (ambos canceladíssimos pela editora, e o primeiro foi ressuscitado por Cassius Medauar na JBC). Mesmo assim… meio carinho um mangá de quase quinze conto em sentido ocidental né não?

Vamos esquecer agora os meio tanko e partir pro tanko?

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O primeiro tanko brasileiro foi lançado pela JBC, que cobrou exatamente o valor de dois meio tanko. Convertendo para nossa desvalorizada moeda de hoje, vemos que o preço era uma pequena faca perfurando nosso coração enquanto um Mokona faz um cameo no fundo.

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Vamos para um dos primeiros tankos da Conrad (não foi o primeiro, mas é o que eu curto mais então XIU). A qualidade da edição e do papel se comparam ao que temos nos mangás de hoje, e coincidentemente o preço está quase igual também. Se Slam Dunk vier a ser republicado no Burajiru, capaz de sair até mais caro…

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Já um dos primeiros tankos da Panini tem um preço bem próximo dos atuais. E a minha edição comprada na época também está impecável até hoje, ou seja, se você quiser sofrer lendo a saga do Arima o negócio não vai soltar página na tua mão.

E como seria um mangá de luxo?

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Resumindo: nunca foi fácil ser otaku no Burajiru. E pelas contas, podemos até dizer que os mangás de hoje estão até um pouquinho mais baratos do que eram há dez anos. E se compararmos com os publicados no final dos anos 90, a gente tá é saindo no lucro.

No entanto, analisando os valores podemos ver que mangá sempre foi diversão para pessoas com melhores condições de valores aquisitivos. Mas aí já é outro problema.

21 comentários em “Quanto custariam hoje os primeiros mangás publicados no Brasil?

  1. Então seguindo a lógica, deixando meu mal gosto de lado, devo comprar mesmo o X do sebo a preço de capa que na verdade estarei comprando mais barato? aqui é o comentário de alguém de humanas que sofre todos os dias por favor respondam

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  2. Cheguei a gastar 70 dilmas por mes nessa época com mangá…. putamerda.

    Por isso hoje em dia escolho muito bem o que comprar, ou seja, quase nada

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  3. Σ donovan o’neil (@Lobo_paranoico), claro que vc vai estar levando vantagem,,,,ou nao

    Com certeza essa edição ja vai estar detonada pelo tempo, porem voce vai tê-la em mãos. Ate porque duvido que um dia X/1999 vira a ser republicada por aqui , ou ate mesmo ter um final em mangá

    E no fim das contas é um mangá muito bom, e a JCB ate caprichou na edição

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  4. Na época eu gastava em média R$120,00 ~ R$160,00 em mangás e revistinhas de anime. O tio da banca até guardava para mim todas as edições e no começo do mês eu pegava o pacotão de mangás na banca. Hoje não gasto mais nem 10 pila nessas revistas.

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  5. Mara, sua Júpiter da blogosfera otaku, para de dar ideia pras editoras aumentarem os preços dos mangás.
    Não faz isso com meu POKKETTO!

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  6. Olhando esses valores, o valor do mínimo, a situação econômica que me rodeava em 1999, onde eu nem sabia falar, e hoje, posso dizer que encareceu o necessário, tirando transparências aqui e ali.

    Henrique Picanço
    https://codekeikaku.wordpress.com

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  7. Bom dona Mara, interessante levantar esse assunto nos dias de hoje. Só que não levantaria somente esse quesito para comparação: o mercado era totalmente diferente do de hoje.

    Fica óbvio que valia mais a pena colecionar o produto antes do que hoje. Até mesmo se vendia bem obras menos populares e de qualidade duvidosa por conta do preço. O que hoje não ocorreria. O mercado encolheu. Por mais que você pagasse um pouco mais caro por doses homeopáticas você tinha condições de comprar. Vamos ser francos: claro que em alguns casos eles cobravam mais caro em alguns títulos porque eram séries conhecidas e outros nem tanto somente estavam ali pra pegar a onda da moda mangá.

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  8. Olha.. existe uma outra forma confiável, tá… para fazer esta medição.

    No site do Banco Central do Brasil há este link.
    https://www3.bcb.gov.br/CALCIDADAO/publico/corrigirPorIndice.do?method=corrigirPorIndice

    Com base na data de lançamento e o índice estipulado, chegamos a um resultado.
    Eu peguei como exemplo SAKURA;

    SAKURA CARD CAPTORS
    JUNHO DE 2001 A FEVEREIRO DE 2016
    2, 90 >>>> 9,06 (HOJE)

    E, porque peguei o IGP-M? Porque é o índice mais alto, apensar do IPCA ser o medidor oficial da inflação. Enfim… Acessem o link acima. Mas, é precisa saber o ano de lançamento e fazer os cálculos…

    Sandra Monte
    http://www.papodebudega.com

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  9. Fora Dilma e PTralhada, se ela continuar no poder aí sim vamos tomar mais um pouquinho no orifício anal. A economia tá indo pra casa do caralho.

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  10. Samurandre, está claro que a moeda desvalorizou, isso a própria Mara comenta no texto. Mas o mínimo aumentou acima do teto da inflação sempre, então se tem MUITO mais dinheiro do que se tinha no inicio do Plano Real.

    Enquanto em 1994 você ganharia 70 reais de mínimo (e, sendo assim, 100 reais é uma pequena fortuna), hoje você ganha 880 (sendo que em alguns estados o mínimo é maior)

    Os mangás aqui citados, principalmente os meio-tanko da Conrad e da JBC no início, custavam 2,80 quando tu ganhava 150~180 reais de mínimo. Teve gente aqui nos comentários falando em gastar 200 reais em mangá por mes. Mas ficando só nos mangás que a Mara citou até 2003, dá em torno de 31 reais, o que é quase 1/4 do salário mínimo da época. Hoje eu choro gastando 70 reais ganhando pouco mais que o mínimo!

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  11. É claro que era muito mais caro (pelo menos pra mim) comprar mangá nessa época, porque ou era mangá ou era lanche.

    Pensando bem, hoje em dia ou é mangá ou comida, gasolina, financiamento do ap, empréstimo.

    Incrível como tanto hoje quanto antigamente, ainda consigo encaixar o mangá no mês.

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  12. Usar a calculadora do estadão não é a melhor forma de fazer a correção da inflação, acabou deixando os preços “manipulados” para um valor maior (perfeito para você usar como base argumentativa, né?), então a Sandra Monte demonstrou um método mais aceitável. (linda, gata, bjs miga!)

    Mas quando eu me deparei com o trecho abaixo:

    “No entanto, analisando os valores podemos ver que mangá sempre foi diversão para pessoas com melhores condições de valores aquisitivos. Mas aí já é outro problema.”

    Pensei em logo em um post da seção problematizando com o tema “publico dos scans e o mercado nacional”. Fica a dica. Bjs na careca.

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  13. Achei essa edição de Sakura barata, pois já vi um dono de loja grande vendendo por R$ 200,00. Ê abuso…

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